Quando o meu filho era pequeno costumávamos brincar no carro a um daqueles jogos básicos que nos aproximam de forma incrível. Consistia em gritar “yellow car!” sempre que avistávamos um qualquer carro amarelo – só ligeiros e particulares eram válidos. Ganhava quem no final do percurso descobrisse mais veículos amarelos. O engraçado disto tudo é que de repente, para onde quer que eu fosse, descobria imensos carros amarelos (o que me fazia sempre sorrir).
Estes fenómenos acontecem connosco na nossa vida do dia a dia com necessidades que criamos e para as quais ficamos mais despertos. São aquelas alturas em que os consumidores andam atrás de produtos e serviços. E se a procura aumenta, a vida das marcas fica mais facilitada.
Há estudos em Marketing que demonstram que ao longo da vida existem momentos específicos, chamados “Pontos de Entrada no Mercado”, em que nos tornamos totalmente recetivos a uma nova categoria de produtos. Os pontos identificados são 7 – 1º dia de escola, a ida para a faculdade, o 1º emprego, mudar para longe de casa, casar, o nascimento do 1º filho e a reforma. Podem-se considerar estes como momentos universais, no entanto eu diria que são momentos macro. Ao longo da nossa vida existem muitos momentos destes, mas mais pequenos. Pode envolver a troca do carro, do telemóvel, do colchão da cama, de um aspirador ou simplesmente começar a praticar uma nova atividade desportiva ou a perspetiva de uma viagem. E cada momento destes surge ao ritmo de cada um nós. O contexto de cada pessoa vai-se encarregando de abrir a porta para essas necessidades que passam, quase de repente, a ter que ser imperiosamente satisfeitas.
Mas e se chegássemos todos a um desses momentos em conjunto? Parece que foi o que aconteceu agora a nível global – à cause do Covid-19. Chamam-lhe o 8º ponto de entrada no mercado e vendo bem acho que é poderosamente diferente dos outros. É um híper-ponto de entrada no mercado, uma espécie de concentrado de necessidades que todos temos que satisfazer e ao mesmo tempo.
De repente e nos últimos meses, sejam portugueses, sejam italianos ou americanos todos passaram a estar mais despertos para determinadas categorias de produtos. E estas são tão diversas como máscaras, luvas de latex e álcool gel, máquinas diversas – de café (e café), de cortar o cabelo, ou fazer pão (e fermentos e farinhas), mas também termómetros, aparelhos de fitness, roupas de desporto, computadores portáteis e impressoras, televisões, consolas de jogos, puzzles e um sem número de outros artigos e serviços.
E perante a ameaça de uma quase inevitável segunda vaga de covid-19 no próximo outono, que nos poderá voltar a exigir ficar mais por casa, estas necessidades vão certamente manter-se por mais algum tempo.
Em suma, os consumidores estão todos num ponto de entrada do mercado à espera que lhes abram a porta para satisfazer as suas novas necessidades. E se estão cheios de vontade de comprar, do que é que estes segmentos de mercado estão à espera? É fundamental atrair a atenção dos consumidores agora que estão todos a ver “yellow cars”. Vamos comunicar?
Pedro Mota Vargas